quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O amanhã que é hoje e não chega.

Amanhã talvez. Mas hoje até o respirar está pelo avesso e minhas certezas divorciam-se de mim mesmo como esboço oblíquo de escritas tristes e linhas diagonais que cruzam minha quietude: lido com esmiúça da cabeça aos pés por olhos turvos de ninguém. As veredas têm sido continuamente sem destino acertado, circunscritas por diálogos incompreensíveis, ciúmes forjados, promessas impossíveis. Os que vão comigo jamais cruzam minhas chegadas. Deixam-me sempre seus bocados, suas metades apagadas, suas sobras quebradas, seus amores desfeitos. É então que findam os sorrisos fáceis, ficam pelo caminho as confissões íntimas e desmancha-se a esmo a felicidade nossa.

Apenas amanhã. Hoje estou excessivamente cansado, impaciente e pessimista  para querer que a minha existência seja diferente. É uma fadiga absurda a que é submetida meus músculos, membros e cérebro. Exausto, não penso: duro, assim como as árvores que resistem às alvoradas. E observo atônito os dias passarem como se fossem vidraças maculadas de ansiedade e mentira. Sem que o saiba, sem que o creia e sem que o chore, a penumbra da desesperança já vai surgindo atrás das luzes opacas e me cobre no canto escuro do quarto sem paredes. É sem saber por que respiro que sigo, cambaleio sobre uma corda bamba e perco o equilíbrio quando me fazem discursar quando necessito calar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Lampejo nas sombras

Prelúdio das ocasiões, sobejo das horas.
A disposição dos antigos objetos dessa sala sem paixões, me dizem provérbios e frases bonitas que eu não entendo ao certo o que significam. E nem busco compreender. Para acomodar-me em doces fantasias, deito fora o tempo e aquilo o que não cabe mais em mim e nem no mundo, as mazelas estampadas nesses retratos sem molduras: e tudo é para respirar por entre realidades dissimuladas, sentir abreviar esses batimentos sem razões, ver fugir por buracos inexistentes o que impregnado já está no espectro. Surge no pano de fundo amarelecido da minha triste vida, aquelas frustrações que não somem, nem dormem, não se escondem.
Letargia vaga do inexplicável, desatino dolorido que ofusca as retinas, sombras e sobras de meus desapontamentos. Ergue-se um vidro diáfano entre o que me forma e o ideal, constrói-se um muro entre o plausível e o impossível, anseios inomináveis acercam-se entre mim e ti: avisto-te apenas por alegorias tortas, por fatos contestáveis, maneiras imprecisas. A saudade, quando transvestida de angústia, nubla aqueles temporários instantes em que nos esquecíamos de nós mesmos, onde passado não havia e o futuro era imensurável. Agora venta em mim, como confissões de tempestades atemporais, a bebedeira hesitante de todas as eras. E meu peito silencia desgostoso para me lembrar que você não está.
Contudo, não existo. Estou. Só percebo aquilo que não presencio e não almejo nada a não ser uma praça onde se possa sentar num banco de madeira envelhecida, ficar a meditar sobre o céu e vê-lo por azul no outono, com um lago límpido à frente e um sopro manso para acalentar abraços que se despedem. E eu finjo ser poeta do que não sei, amar o que não possuo e dar vida a enleios fugidios.

Entorno no ar pensamentos soltos e essas palavras são para comprovar a incoerência das minhas sensações.