quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Para esquecer desatinos

Nesses desconcertos sem arranjados já não há mais o que sentir ou pulsar:
só o silêncio dos ecos de romarias distantes se fazem notar.
Existe ali, onde termina o caminho deflorado dos meus amores,
a esperança incerta e bêbada do porvir sem cores.

E me circundam torpores e consternações, metades e tormentos, lamúrias e equívocos que se cruzam e se embaraçam com finais meus e restos teus, com vontades minhas, suspiros teus. É por isso que apenas lhe sonho, figura inacessível de desejos descabidos. Se fosse realidade, não seria essa poesia ininteligível e contrária, nem mesmo uma prosa com cadência bela. Se fosse realidade, estaria só e pelo avesso, vagando em ruas de mão única, e não abrigada no fruto de minha pueril fantasia.
Mas para além de mim não há nada que se possa fazer presente. Navego por entre correntezas e pelos vácuos dos meus descompassos. Me abstenho de alegrias, espectro efêmero e alheio, e sorrio para a insanidade de quase ser. Perco no horizonte essa faísca repentina que se convém denominar felicidade: bebo e fumo meus maços e isso me parece como a plenitude branca das nuvens.

Violão desafinado, livros rasurados e páginas marcadas, manchas frias pelo gasto assoalho; E é tudo para aparentar esquecer meus cansaços quando me deito ao teu lado.

Naquela manhã de domingo que só nasceu para mim, você despediu-se e levou o que de mais secreto havia nos meus recantos. E desde então eu endoideço a procurar-te para saber dos teus fins, secar tuas lágrimas, entender teus rogos e sorrir para as tuas tortas razões. Mas os desatinos não somem e os delírios não desgarram. Ficam assim, pairando entre o eu incompleto e a suposta luz que és tu.