Enquanto ainda irrompem lampejos de poesia
Há sangue nos altares de pedra
Existe fome nas avenidas
E encanto nas folhas que não desabam
Micro espetáculo de miudezas desimportantes
Corações corroem-se em misérias e egoísmos
Corpos desiludidos e
expressões vagas
Copos vazios e mentes
doentes
E miolos espalhados
pelas paredes
Quando comprimidos não
solucionam a incompreensão
Entulho nas arestas das
horas
Desesperança no
asfalto morno
Ápices inatingíveis e
fossos inescapáveis
Panoramas ideados para
pulverizar a solidão
Falsos esboços
Bolsos rasgados
Trocados miúdos
Refluxos estéreis do
cotidiano
Sopros do tédio
Ruína dos anseios previstos
Máscaras que sufocam os
fins
Mentiras abafadas no
solo das ficções
Sussurros inaudíveis e
renúncias estridentes
E abandono
Descrença no amanhecer
E delírio
E devaneio
E desassossego.
É improvável não
sofrer no oscilar hipotético e indiferente do destino
A mais coerente das
razões é ainda fragmento do intangível
E a súbita emoção, resplendor
do inexistente.