segunda-feira, 11 de abril de 2011

Não vou ir.

Pra quê atravessar a rua, se esse lado é igual ao outro?
Se todo sorriso de criança e toda languidez mórbida que se encontram do outro lado, existem cá também, pra quê ir?
Se as manhãs são eternas, se as noites são geladas, se o vento derruba as folhas na primavera e a tempestade devasta os campos, aqui e do outro lado, me diz pra quê sair?
Se vemos construídas lá e cá todas as tabernas, igrejas, prostíbulos e cultos, que nos levam a glória e a perdição em um só tempo oco, pra quê mudar, eu lhe pergunto?
Se iremos cambalear por sobre certezas queimadas, olhando o passado com nostalgia e o futuro com medo, aqui e lá, pra quê fugir?
Se toda miséria e toda riqueza estão erradamente dispersas dos dois lados, pra quê mexer?
Se o ponteiro do relógio seguirá caminhando despreocupado e moroso através dos segundos, pra quê correr?
Se o marasmo dos penosos sonhos, das conjecturas infinitas, das decepções cortantes, extende-se em cores fúnebres tanto lá como cá, pra quê atravessar?
Não, por favor, não insista! Diga que sou mesquinho e ignorante, insulte-me se achar necessário, mas não insista! Deixe-me sumir dentro de mim mesmo, aqui onde estou, em meus movimentos retrógrados e na minha busca inútil e desesperada pela ataraxia desses dias demorados. E nem me venha com possibilidades! Ainda nem me acostumei a existir com o que tenho de concreto; como posso então mudar o que conheço apenas através de preâmbulos vazios?

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